Soldados da ONU, liderados pelo Brasil, reprimem manifestantes e deixam pelo menos seis mortos.
Ligações: Opinião Socialista, PSTU
Nos últimos dias o povo haitiano saiu às ruas para protestar contra o escandaloso aumento dos preços dos alimentos, que triplicaram desde novembro, e também contra a presença das tropas da ONU - Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah).
A repressão contra as manifestações, realizada pela Minustah e comandada pelas tropas brasileiras, provocou pelo menos seis mortes. Mas há denúncias de que o número de vitimas é ainda maior.
Contra fome e a ocupaçãoOs protestos começaram espontaneamente nas cidades de Gonaives, Petit-Goave e Les Cayes, no sul do Haiti. Mas logo atingiu a capital Porto Príncipe. Manifestantes chegaram a cercar o Palácio Nacional (sede do governo do presidente René Préval) gritando "estamos com fome", culpando-o pelo alto preço dos alimentos, exigindo sua renúncia e a saída das tropas da ONU.
Nesse momento, soldados brasileiros dispararam contra o povo haitiano. A imprensa divulgou testemunhos de um soldado da ONU atirando na cabeça de um manifestante.A organização sindical Batay Ouvriye (Batalha Operária), que participa dos protestos, descreve em nota pública como agem as tropas: "Agora, não estão deixando que nos reunamos nas ruas ou até em locais de costume. À noite, semeiam um verdadeiro terror em nossos bairros. Cada vez que passa uma patrulha, metralham sem parar, na altura das pessoas, forçando-nos a deitar no chão. Esta tarde, até granada lançaram sobre a população, ferindo e matando outra vez pessoas em plena zona de mercado".
Dias antes de as manifestações se generalizarem, os trabalhadores haitianos realizaram uma intensa campanha por reajuste salarial. A organização Batay Ouvriye denunciou a proposta de salário mínimo feita pelo governo, de US$ 3,95 diários. Segundo a organização, a proposta era "inaceitável", pois nenhum trabalhador podia viver com menos de US$ 12 diários. O próprio governo reconhecia que o mínimo que necessitava um trabalhador era de pelo menos US$ 8. Estima-se que 80% dos haitianos recebem menos que US$ 2 por dia.
Agronegócio provoca fomeO povo do Haiti saiu às ruas para lutar contra a fome e recuperar sua soberania. O aumento dos alimentos é provocado pelas políticas de favorecimento ao agronegócio, cuja produção é destinada à exportação. O resultado disso no Haiti é dramático. Há 20 anos o país produzia 95% do arroz que consumia, hoje importa dos Estados Unidos 80% desse produto. A desnutrição atinge 45% das crianças haitianas menores de 5 anos. Além disso, essa política causou um enorme desemprego. Estima-se que 800 mil trabalhadores do campo estão desempregados.
Crise no governo
Em meio à crise, o presidente René Préval foi à televisão pedir o fim das manifestações. Préval tentou se eximir da responsabilidade pela crise, culpando outros governos, e cogitou criar medidas para tentar solucionar o problema da fome, entre elas subsídios para o aumento da produção de arroz e outros produtos básicos. A Batay Ouvriye denunciou as declarações de Préval, responsabilizou o presidente (que está há cinco anos no poder) e disse que as medidas anunciadas são insuficientes para deter a fome: Préval nos mandou esperar por algo que poderá dar resultados dentro de dois, três, dez, vinte anos! Com cara de pau, nos propõe essa solução para a crise. Nós estamos morrendo de fome hoje, agora!, declarou a organização.
Para tentar amenizar e desarmar os protestos, no último dia 13, legisladores haitianos votaram pelo afastamento do primeiro-ministro, Jacques Edouard Alexis. Mas em todo o país a tensão continua alta. O pedido de renuncia de Aléxis foi pode ser a primeira baixa do governo desde o inicio dos protestos. Por outro lado, mostra que os protestos estão causando uma profunda crise e desgaste no governo de Préval, que mantinha uma relativa popularidade entre os haitianos.
Tropas ocupam o país em nome do imperialismo
Desde junho de 2004, mas de 7 mil soldados ocupam o país. O governo brasileiro cumpre uma tarefa vergonhosa ao liderar a missão e manter cerca de 1.200 soldados no país. As tropas também são formadas por soldados do Uruguai (1.147), da Argentina (562), Chile (502) e Guatemala (114). Todos estes países possuem governos considerados de "esquerda" e "progressistas", mas na realidade fazem o trabalho sujo do imperialismo ianque, reprimindo a população e sustentando um governo fantoche.
São inúmeras as denúncias de atrocidades cometidas pelos soldados da ONU. Recentemente, a própria Minustah foi obrigada a repatriar 114 soldados acusados de abuso sexual e violações a mulheres e crianças em várias regiões do Haiti.
A situação torna-se ainda mais dramática quando se vê o contraste da miséria do povo haitiano com os gastos da missão de ocupação. No ano passado, as tropas tiveram um orçamento de US$ 535 milhões, ou seja, 9% do PIB do país.
Diante desse quadro, a organização Batay Ouvriye, uma das que convocam o Encontro Latino-Americano e Caribenho (ELAC), afirma: "Sempre tivemos clareza sobre o que vieram fazer aqui. Agora, vendo-os ficar entre nós e nossa luta contra a fome, fica ainda mais claro que estes sanguinários devem ir embora. Agora mesmo! Abaixo a ocupação! Fora a Minustah!"
Os trabalhadores brasileiros não podem aceitar que o governo Lula continue ocupando o Haiti, reprimindo sua população e cometendo os mesmo crimes que os soldados de Bush realizam no Iraque.
sábado, 26 de abril de 2008
Haitianos vão às ruas contra fome
Internacional
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