Metade das grandes empresas tem gestores que já foram governantes
Ligação: Esqueda.net
03-Abr-2008
A anunciada passagem de Jorge Coelho para a presidência da empresa de construção Mota-Engil está longe de ser um caso único. Num estudo publicado hoje pelo Diário Económico conclui-se que metade das empresas cotadas no PSI-20 tem ex-governantes nos seus quadros. Muitos deles exercem funções em empresas da área que tutelaram enquanto estavam no governo. A lei actual prevê um período de nojo de apenas três anos. O Bloco de Esquerda propõe o alargamento deste período para dez anos.
Tudo indica que Jorge Coelho, ex-ministro das obras públicas, assumirá em Maio a presidência da maior empresa de construção do país, a Mota-Engil. Numa entrevista ao Diário Económico, quando confrontado com esta possibilidade Jorge Coelho respondeu: "Eu tenho de trabalhar, não?"
Mas o estudo exaustivo do Diário Económico mostra que este caso está muito longe de ser único. Metade das grandes empresas têm ex-governantes nos seus quadros e 10% dos administradores do PSI - 20 passaram por governos.
Contactados pelo Diário Económico, Pina Moura (antigo ministro das Finanças e actual presidente da Média Capital e da Iberdrola) e Manuela Ferreira Leite (administradora do Santander e também ex-ministra das Finanças) recusam-se a falar sobre o tema. Mira Amaral, que foi ministro do trabalho dos governos de Cavaco Silva e ocupa cargos de relevo na administração privada, aceitou falar: "O Paulo Teixeira Pinto quando chegou ao Governo nem sabia o que era um banco e o Pina Moura o que era energia", lembra o ex-ministro do Trabalho.
Outro caso bem conhecido é o de Ferreira do Amaral, ex-ministro das Obras Públicas que agora é presidente da Lusoponte. "A lei preocupa-se com isso e estabelece uma norma: três anos sem contactos ", disse ao Diário Económico em Fevereiro deste ano. A lei efectivamente estabelece um período "de nojo" de três anos, mas prevê algumas excepções, como a assessoria ou consultoria, ou o facto de determinada empresa não ter beneficiado de incentivos financeiros ou fiscais por parte do Estado. Há um mês atrás, o Bloco de Esquerda apresentou uma proposta para mudar as regras deste jogo viciado, prevendo um período de 10 anos entre o exercício de um cargo de governo e o de administração de uma empresa da área tutelada.
Mas os exemplos nesta matéria abundam. "Quando criei os hospitais SA, tive uma preocupação com a gestão dos recursos", diz Luís Filipe Pereira, que garante ter sido melhor ministro da Saúde (nos Governos de Durão Barroso e Santana Lopes) precisamente pelos vários anos de experiência que tinha como gestor. "Tive muitas propostas quando sai do ministério", diz.
A Cimpor é um caso paradigmático. "A maioria do conselho de administração da Cimpor passou pelo Governo, mas não me recordo de todos", conta fonte oficial da empresa, que sublinha o facto de esta ter pertencido ao Estado: "Os membros eram todos nomeados." No fundo, é tudo uma questão de "elasticidade", segundo um destacado empresário que ocupou cargos políticos.
Jorge Coelho, como Ministro das Obras Públicas, em 2000. Foto de arquivo da Lusa.
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